1. Introdução 
                                Este artigo reúne os resultados  da ultima etapa do Projeto de pesquisa intitulado: “Investigação sobre os  efeitos discursivos da ‘CAPScização’ da atenção à saúde mental: avaliação  qualitativa dos processos de institucionalização do modelo CAPS”. Tal etapa foi  denominada Avaliação da Metodologia da  Conversação Clinica junto aos CAPS em Minas Gerais(1)e teve como objetivo a avaliação qualitativa da metodologia da conversação  clinica em seis municípios no Estado de Minas Gerais, a saber: Belo Horizonte,  Betim, Buritizeiros, Governador Valadares, Perdões, Santos Dumont e Uberaba. Em  Belo Horizonte e Betim foram realizados estudos piloto, uma vez que nesses dois  municípios a política de saúde mental tem um histórico mais amplo de  implementação da metodologia da conversação clinica. 
                                Na primeira parte desse  relatório realizamos uma breve consideração sobre o percurso metodológico  utilizado para essa etapa da pesquisa. Em seguida, apresentamos as análises de  resultados da avaliação realizada em cada um dos 7 municípios acima destacados  a partir de categorias de análise relacionadas a aspectos clínicos, institucionais  e políticos. Por fim, concluímos o artigo com considerações gerais e finais  acerca da implementação da metodologia da conversação clinica nos CAPS  investigados.
                                
2. Percurso Metodológico
                                Para alcançar nossos objetivos,  escolhemos como metodologia de pesquisa, os grupos  focais. Escolheu-se, portanto, uma abordagem qualitativa cujo enfoque é na  compreensão de um contexto particular, respaldando-se na interpretação, na  busca de significado, na subjetividade e na intersubjetividade (Gondim,2002,  Kind, 2002).
                                O grupo focal é um instrumento de  pesquisa que visa a coleta de dados qualitativos que podem ser contemplados no  processo grupal. É um método que propicia a obtenção de “[...] uma variedade de informações, sentimentos, experiências,  representações de pequenos grupos acerca de um tema determinado” (Chiesa;  Ciampone, 1999; Alzaga, 1998; Nery 1997; Canales; Peinado, 1995 Apud Kidd, 2004, P.126).
                                  No grupo focal o  moderador possui o papel de facilitar o processo de conversação e debate entre  os membros de um grupo, deslocando seu interesse para a inter-influência de  respostas que se produzem nas discussões grupais desencadeadas sobre um  determinado assunto. As intervenções são pontuais, para esclarecer as opiniões  emitidas, introduzir e concluir tópicos de discussão. É importante destacar que  o grupo é tomado como unidade de análise, ou seja, se uma posição é apresentada  por um participante do grupo, mesmo não sendo partilhada por todos os outros  integrantes, na análise dos resultados, é tomada como do grupo (Bunchaft,  Gondim, 2004).
                                Existem, pelo menos,  duas classificações de grupos focais, a de Morgan e a de Fern. Para Morgan  (1987; 1996), há três perspectivas no uso de grupos focais, que se diferenciam  quanto à centralidade desta técnica para vir a responder ao problema da  pesquisa. A primeira perspectiva é a do grupo focal auto-suficiente, que  considera a técnica como principal fonte de dados, por revelar aspectos  oriundos dos processos de interação grupal, que não são facilmente acessíveis  pela técnica de entrevista individual. Os dados obtidos são suficientes para  dar resposta ao problema da pesquisa. A segunda perspectiva descreve o uso dos  grupos focais como fonte preliminar de dados. Neste caso, os grupos focais  atendem a finalidades exploratórias e servem para dar subsídios para a criação  de itens de instrumentos e para a realização de pré-testes. A terceira e última  perspectiva é aquela que concebe a técnica como associada a outros métodos.  Neste caso, os grupos focais são combinados a dois ou mais instrumentos de  coleta de dados, com o objetivo da triangulação, ou seja, avaliar as  possibilidades de se chegar a conclusões similares ou complementares partindo  de um único objeto de estudo complexo. Na pesquisa aqui apresentada,  consideramos que a utilização dos grupos focais para avaliação da metodologia  da conversação clínica junto aos CAPS em Minas Gerais deverá ser contraposto e  analisado junto com outros dados levantados pelos membros da pesquisa  “Investigação sobre os efeitos discursivos da ‘CAPScização’ da atenção à saúde  mental: avaliação qualitativa dos processos de institucionalização do modelo  CAPS”.
                                Para realização dos  grupos focais foi elaborado um temário/roteiro de entrevista com consistia em  dez perguntas elaboradas a partir da leitura do projeto da pesquisa acima  mencionado e conversas com a equipe de pesquisadores responsáveis pela mesma.
                                2.1. A seleção dos sujeitos
                                Foram convidados para participar  dos grupos focais profissionais de diversas áreas e equipamentos que tivessem  participado de alguma das conversações clínicas realizadas pela equipe da  pesquisa em questão ou; como no caso de Belo Horizonte e Betim, de outras  conversações que já tivessem ocorrido há mais tempo, independente da proposta  desta pesquisa. 
                                Buscou-se aproveitar horários já  pré-definidos de encontro das equipes para realização dos grupos focais. Assim,  foram feitos contatos com pessoas-chave dos municípios investigados e a partir  do mesmo, disparada a chamada para participação no grupo focal. A equipe da  pesquisa disponibilizou listas de presença das sessões de conversação o que  também facilitou o contato com os participantes.  
                                Em alguns municípios, embora o  convite para participação do grupo focal tenha sido bem claro em relação à  necessidade de já ter participado de alguma conversação clínica, houve a  presença de participantes que não cumpriam esse critério. Isso foi detectado  logo no início dos grupos focais e avaliou-se que, como as perguntas eram  direcionadas a quem havia participado a presença de outras pessoas não  interferiria na condução do grupo focal. 
                                2.2 Grupos focais realizados
                                Abaixo elaboramos uma pequena tabela que indica município em que foi  realizado o grupo focal e número de participante(2).
                                
                                  
                                      
                                        Município  | 
                                      
                                        Número de participantes  | 
                                  
                                  
                                    Belo Horizonte  | 
                                    13 + 02    observadores  | 
                                  
                                  
                                    Betim  | 
                                    14 + 05    observadores  | 
                                  
                                  
                                    Buritizeiros  | 
                                    08 + 02    observadores  | 
                                  
                                  
                                    Governador Valadares  | 
                                    08  | 
                                  
                                  
                                    Perdões  | 
                                    08  | 
                                  
                                  
                                    Santos Dumont  | 
                                    08 + 01    observador  | 
                                  
                                  
                                    Uberaba  | 
                                    10  | 
                                  
                                
                                3. Análise e  Resultados
                                Como apresentado acima, passamos para a apresentação dos resultados nos 7  municípios onde foi implementada a metodologia da conversação clínica.  Para  cada município seguiremos o  seguinte roteiro: considerações sobre os aspectos metodológicos e análise e  resultados dos grupos focais. Nos casos de Belo Horizonte e Betim que foram  casos piloto na pesquisa, as análises incluirão também as entrevistas  realizadas com os coordenadores da política de saúde mental de cada um dos  municípios.  
                                3.1. Localidade: Belo Horizonte/MG
                                Resultados
                                Para fazer uma análise mais profunda da realização das conversações clínicas  em Cersam localizado na cidade de Belo Horizonte, é preciso compreender  um pouco do histórico de implementação dessa  política no município, histórico este que possui várias especificidades em  relação à sua implementação e também tempo de duração.  Para tanto, antes de passarmos à análise do  grupo focal realizado em Belo Horizonte, traremos alguns aspectos mais amplos  da política a partir da análise da entrevista realizada com o coordenador da  política de saúde mental deste município. 
                                 O primeiro aspecto  ressaltado pelo entrevistado é a diferença da implantação dos CAPSs, chamados  em Belo Horizonte, de CERSAM´s de outros CAPS no nível nacional. Para o  entrevistado, Belo Horizonte tem uma história própria, primeiro pelo movimento  que se instaurou nesse município no final da década de 70, década de 80 que foi  marcado pelos movimentos de luta anti-manicomial mais organizados, e mais  fortes do país. Tal movimento não esteve separado da organização e força de  outros movimentos sociais e políticos do município que vão influenciar  inclusive o próprio cenário político da cidade. Tal  cenário culminará como ponto de destaque, com gestões municipais de caráter  mais participativo e em maior diálogo com os movimentos sociais. Esse cenário  será um pano de fundo importante, segundo o entrevistado, para que a reforma  psiquiátrica na cidade fosse colocada em prática. È por esse motivo que o  entrevistado compreende que Belo Horizonte possui um papel de destaque no  cenário nacional, com sustentação no governo e na sociedade. Contudo, manifesta  preocupação com perspectivas que pensam que a reforma já se implementou. Para  ele estamos ainda no meio do processo e muita coisa deve acontecer. 
                                Isso possibilitou um debate que  foi/vai para além da assistência psiquiátrica, mas a própria discussão acerca  da loucura na sociedade. Isso fará com que o debate da reforma seja muito mais  do que a questão de um determinado governo, mas do estado, já que possibilitou  uma maior solidificação do debate no município. 
                                Exemplifica o lugar de Belo  Horizonte nas discussões nacionais. Relata que enquanto em nível de Brasil os  serviços estão discutindo se atendem crise ou não, em Belo Horizonte o que se  debate e reivindica é por qualidade no atendimento. Parece que o que preocupa é  com que arcabouços teóricos, metodológicos, institucionais e de infra-estrutura  essa crise será atendida. Parece, segundo a fala do entrevistado, que em Belo  horizonte se tem uma percepção bem clara de que os problemas com os quais a  política de saúde mental não possuem respostas definitivas e prontas, mas é  necessário ter uma postura de criação e invenção de soluções. 
                                Chama a atenção para uma certa  percepção de que os CAPS já são uma conquista suficiente. Parece chamar a  atenção para a necessidade de uma não acomodação em relação às conquistas já  que o que se espera é uma mudança social muito maior. Se refere a uma percepção  dos CAPS como ambulatórios e afirma que esse é de fato um problema concreto.  Diz que o momento da saúde mental é bem diferente de tempos atrás já que uma  série de conquistas já foi alcançada inclusive soluções já foram implementadas  e já estão institucionalizadas. A materialização dessas conquistas parece que  estão colocando novos desafios para a política que podem ser compreendidos,  como os desafios da mudança social. 
                                
                                  
                                    (...) é muito melhor que  simplesmente que no tempo que a gente ia para rua... que a gente criticava  hospícios. Hoje nós estamos tendo que haver com problemas concretos entre eles  até que ponto os nossos equipamentos, os nossos serviços também não reproduzem  por exemplo as mesmas lógicas? (...) você simplesmente critica uma coisa que é  evidente e quando você anuncia princípios, propósitos, quando você coloca em  prática uma coisa que você vai ver que o velho e o novo tornam misturados...
                                    
                                  
                                Reafirma que a política de saúde  mental que virou realidade trás novos problemas e novas soluções. O  entrevistado parece reconhecer a necessidade de se estar sempre em alerta, pois  os riscos da institucionalização podem ser nocivos para o propósito da política  que é promover uma mudança maior. 
                                A compreensão do coordenador da  política de saúde mental acerca do cenário atual da mesma foi utilizada aqui  como introdução da análise do grupo focal que aconteceu em Belo Horizonte. Passamos  agora para a análise do grupo.
                                Um dos aspectos que foi  destacado sobre a metodologia da conversação clínica se refere ao fato desta  não ter instaurado a prática da conversa dentro do serviço. Para os  participantes, essa já está instaurada há bastante tempo e é uma das linhas de  trabalho da equipe ali envolvida. Contudo, destaca-se como aspecto inovador  dessa metodologia, o fato de outras pessoas que não são da equipe poderem  participar da discussão do caso. O olhar “de fora”, de alguém que não está envolvido  no cotidiano do caso foi avaliado como um aspecto importante. Tal olhar  permitiria, segundo os participantes do grupo focal, atentar para aspectos que  no cotidiano não aparecem, são invisíveis, ou até mesmo passar despercebidos  devido ao contato direto que se tem com o caso. Em outras palavras, a  conversação clínica, com a participação de agentes externos, possibilitaria um  distanciamento da prática cotidiana na condução do caso clínico.
                                
                                  
                                    Eu vejo que aqui no CERSAM  nós já temos a prática de conversar, a gente conversa muito sobre os casos e  isto faz parte já do nosso jeito de funcionar. Mas isto que veio de fora a  experiência da pesquisa trouxe algo diferente ao meu vê porque tinha gente que  não era do serviço que não fazia parte da equipe. (...) Uma pontuação que é  diferente daquilo que a gente vem fazendo. Não no sentido que trouxe a novidade  de conversar sobre o caso eu acho que para esse serviço não trouxe não. (...) A  contribuição que eu acho para este modelo de conversação foi a possibilidade de  ter alguém que pode escuta do lugar que não é o lugar de uma supervisão, mas do  lugar de alguém que esta de fora e que vai compartilhar qual é o entendimento  dele e qual é a percepção dele a partindo daquilo que a gene traz pra  apresentar aqui. Porque quem traz o objeto da conversa é quem traz o caso que é  o serviço localizado nos profissionais de referência do caso e a gente que está  no serviço
                                  
                                
                                Nessa  mesma linha, foi afirmado que os casos já são discutidos pela equipe, são  construídos pela mesma, mas a conversação clínica possibilita a sua  reconstrução. Reconstrução essa que permite uma re-elaboração contínua sobre os  problemas enfrentados e evita posturas de acomodação em relação ás formas de  encaminhar os casos, abrindo espaço para o novo, para um repensar conjunto de  soluções, impedindo, dessa maneira, soluções prescritas e já conhecidas. Tal  percepção está de acordo com o posicionamento do coordenador da política de  saúde mental do município que apresentou, como explicitado acima, a necessidade  de novas posturas diante de problemas e complexidades encontradas no cotidiano  dos serviços.
                                
                                  
                                    Eu acho que a conversação  clinica foi na verdade uma possibilidade de uma reconstrução de casos. A gente  trouxe casos que já estavam construídos de uma certa maneira mas sempre que  voltaram foi mais uma maneira da gente ta reelaborando o caso, reconstruindo  mesmo na perspectiva de encontrar novas alternativas ou até mesmo alterar a  visão que a gente tinha as vezes vai perpetuando ou vai si acomodando com certa  visão do caso e que essa conversação clinica nos permitiu pensar em novas  alternativas. São casos muito difíceis os casos que a gente conduz.
                                    Eu acho interessante que é  conversa mesmo sobre o caso, uma postura de falar, de tronca de idéias e as  três que eu participei sempre surgiu algo novo (...) coisas que estavam aí e  não foram percebidas. No falar a gente tem um outro olhar e sai da mesmice do  dia-a-dia de ta acostumando com algumas coisas e dizer que é assim mesmo ou  isto é de fulano mesmo. Quando você começa a conversar sobre o caso com várias  pessoas e a pessoa dando um sentido você sai desse lugar comum, dessa visão  comum e começa a ter um novo olhar. Pra mim é isto. Eu achei muito rico  conversando mesmo sobre uma pessoa. 
                                  
                                
                                Um aspecto importante destacado como positivo na conversação clínica se  refere à construção coletiva do caso, que lança mão de diversos saberes e  olhares, o que é compreendido pelos participantes do grupo focal como distinto  da supervisão ou mesmo do trabalho cotidiano da equipe. Esse aspecto ressaltado  é de grande relevância, pois parece apontar para os objetivos propostos pela  metodologia da conversação clínica.
                                
                                  
                                    Eu vejo uma diferença entre  a conversação e a supervisão por exemplo. Supervisão pressupõe que tem alguém  que tem um saber a mais e a conversação é uma construção de saber em conjunto  talvez mais livre não sei se poderia dizer assim essa construção.
                                    
                                
                                Em relação à organização do trabalho mais técnico e burocrático, os  participantes não percebem que a conversação clínica possa ter auxiliado nesse  aspecto da instituição. Enfatizam que as relações não foram modificadas, mas as  formas de intervenção no caso sim. 
                                  Destacam que embora profissionais de apoio do serviço não participem das  conversações clínicas, são importantes no cotidiano de funcionamento do CERSAM.  Fazem referência a um dos casos que foi discutido nas conversações, onde um dos  profissionais do administrativo foi citado e considerado chave na análise do  caso. Reforçam que tem uma importância no cotidiano, e alguns se manifestaram  sobre a necessidade desses outros profissionais poderem participar das  conversações. Expressam que uma visão leiga poderia ser importante para a condução do caso.
                                
                                  
                                    São discussões cotidianas  conversações cotidianas a respeito dos casos. Que eu acho assim que a  conversação clinica dá oportunidade de aprofundar a mais no caso e acho sim que  deveria ter esforços maiores para essas pessoas estarem presentes o que não  aconteceu nesses casos eu acho que seria muito facilitador e isto também traz  que este colocar em um momento. Colocar qual a visão da portaria, do pessoal da  copa, da limpeza que está interagido com o paciente o tempo tudo e é também  equipe.
                                  
                                
                                Identificam como uma das funções da conversação, assim como da  supervisão, a construção de uma certa unidade na compreensão e condução do caso  clínico. Tal unidade se manifestaria na linguagem e na posição diante do caso  que seriam comuns. Isso é identificado como uma tentativa de não fragmentar o  olhar sobre o sujeito em questão.
                                  Identificam a psicanálise como a linguagem comum na abordagem dos casos  discutidos. Fazem referência à escuta psicanalítica, bem como à abordagem  teórica. Tal posicionamento parece ser um pouco contraditório em relação ao que  foi dito acima acerca da pluralidade de saberes e da importância de que seja  dessa maneira. Embora não existam posicionamentos teóricos diferenciados dentro  do grupo, compreendem que outros saberes poderiam ser bastante positivos na  condução dos casos e que nada impediria que isso acontecesse. Fazem referência à  farmacêutica do serviço, que se manifesta reforçando que a psicanálise  possibilita melhor compreensão sobre o caso.
                                Uma das participantes se posiciona com dúvidas em  relação às contribuições da conversação clínica. Manifesta isso dizendo que a  única diferença é que na conversação clínica há uma maior formalização na  apresentação do caso, o que no cotidiano do serviço não acontece com  freqüência. Manifesta que acredita que se isso fosse feito no dia a dia da  equipe, as diferenças entre o que eles já fazem e a conversação clínica  diminuiria bastante. 
                                
                                  
                                    Eu não  sei... Eu não tô nem falando que não tenha, eu acho que a diferença seja a  formalização da apresentação que a nossa conversa cotidiana não tem essa  formalização. Mas assim eu fico assim na dúvida a diferença está na conversação  sabe como... Ou se a gente trouxesse essa discussão assim mais... Porque a  gente em outros momentos aqui no CERSAM de discussão de casos com gente de fora  e... Muita coisa que a gente não tinha pensado apareceu na nossa conversa não  foi? Eu não estou dizendo nem sim e nem não. Eu tenho dúvida se trouxe alguma  coisa assim uma novidade tão grande... Eu tenho dúvida se foi a conversação ou  se foi o próprio formato. A gente teve há pouco tempo uma discussão aqui eu não  estou lembrando mais de quem, qual usuário em que a gente fez de maneira mais  sistemática que também deu uma virada assim.
                                  
                                
                                Por fim fez-se referência aos registros realizados na conversação.  Informam não terem tido acesso aos mesmos, mas acreditam que tal iniciativa  possa ser um diferencial. Quando perguntados acerca do uso da Revista  Eletrônica Clinicaps, ninguém dos presentes havia acessado a mesma até então. 
                                3.2. Localidade: Betim/MG
                                Resultados
                                Da mesma forma como fizemos com Belo Horizonte, para fazer uma análise  mais profunda da realização das conversações clínicas em Betim, é preciso  compreender um pouco do histórico de implementação dessa política no município,  histórico este que possui várias especificidades em relação à sua implementação  e também tempo de duração, bem como os desafios contemporâneos vivenciados pela  política.  Para tanto, antes de passarmos  à análise do grupo focal realizado em Betim, traremos alguns aspectos da  política a partir da análise da entrevista realizada com o coordenador da  política de saúde mental deste município. 
                                O entrevistado apresenta o  histórico de implementação da política de saúde mental no município de Betim e  relaciona tal fato a alguns aspectos, entre eles, a diminuição de internações  nos hospitais psiquiátricos em Belo Horizonte.   Relata que a proposta de implantação de uma rede substitutiva em Betim  começou em 1993 quando uma nova gestão assumiu a prefeitura e nesse momento  fizeram um planejamento discutindo que ações deveriam ser implementadas.  Reforça que a proposta era instituir CAPS com CERSAM, com serviços que pudessem  ter impacto na internação psiquiátrica. Informa que naquela época, os  levantamentos tinham identificado que mais ou menos 600 pessoas eram internadas  por ano em Belo Horizonte. Dessa forma,   a idéia era focar na diminuição das internações nos hospitais  psiquiátricos de Belo Horizonte – esse ponto era fundamental e era necessário  criar uma rede que pudesse dar sustentação a isto. 
                                Inicialmente pensou-se em criar  o Centro de Referencia em Saúde Mental para a clientela adulta e infantil. O  CAPS I ou CERSAM Infantil seria o primeiro CAPS Infantil do Brasil nesses  moldes. Queriam, naquele momento, criar quatro equipes de saúde mental com  unidade básica de saúde e estruturar o serviço de urgência psiquiátrica. Considerou-se  no início, a possibilidade de criar 10 leitos de psiquiatria no hospital geral,  mas considerou-se que era urgente implementar um serviço 24 horas e o município  resolveu bancar a segunda proposta. Dessa forma, a hospitalidade noturna  começou por volta de 1996/97 quando o CERSAM de fato começou a funcionar 24  horas. A partir daí foi possível identificar o impacto que o município tinha na  redução de internações. 
                                Relata que realizou recentemente  um levantamento de todas as internações de diagnóstico psiquiátrico de 1999 a  2007, incluindo os hospitais de Belo Horizonte, hospitais psiquiátricos e  eventualmente algum outro hospital geral que tenha acolhido algum morador de  Betim com este diagnóstico.  Identificou que  houve uma mudança drástica em relação ao perfil de internações: o ano que  internou menos em Belo Horizonte foi o ano de 2002, com o número de 23 pessoas  e o ano que se internou mais foi em 2006, com número de 54 pessoas. Foi  possível estabelecer uma média de 12 internações por grupo de 100 mil  habitantes em 98 que se manteve em 2007. Levando em consideração a correlação  populacional o entrevistado destaca que houve uma mudança de 40%. Diante disso  observa que existem  condições de que um  serviço noturno nos CAPS, no CERSAM como foi organizado em Betim tenha impacto  significativo sobre a demanda de internação.
                                Identifica que a inserção da  saúde mental na atenção básica é um aspecto que não foi possível avançar muito  em Betim, pois a atenção básica encontra-se em fase de transição. O município ainda  não ampliou o programa da família. A cobertura da população está em torno de  30% e isto tem dificultado a ampliação de algumas ações. Existem outras  dificuldades relacionadas aos leitos noturnos, já que a população cresceu  muito. Tal fato tem apontado para a impossibilidade de se atender como se fazia  antes. 
                                Outro aspecto ressaltado se  refere à forma como a própria população tem vivenciado essas questões, já que  historicamente existe uma dificuldade da sociedade em lidar com o  transtorno mental. Relata que em relação aos  casos mais graves, devido à existência de equipamentos diferenciados não existe  a necessidade de recorrer ao hospital e isso é percebido pelo entrevistado como  um avanço em relação a uma cultura não manicomial. Destaca que existem situações  em que é necessário discutir com a família, conversar bastante para criar  alternativas à internação, mas ainda assim identifica que houve avanços.  
                                Identifica que o grande  diferencial dos CAPS é a possibilidade de estar mais próximo da população e buscar  junto com as famílias, a sociedade, soluções para os diversos problemas  enfrentados e o entrevistado tem percebido que as pessoas têm estado mais  receptivas.  
                                Aponta que um desafio atual da  política de saúde mental é que os CAPS possam trabalhar mais “para fora”,  desenvolvendo projetos que extrapolem o seu espaço físico, a sua realidade de  abrangência: com a rede, com o SAMU, com os hospitais de urgência, com a  atenção básica, com a sociedade.   Não é  o CAPS sozinho que vai reproduzir uma cultura; para o entrevistado, é  importante envolver mais atores e segmentos da sociedade. Existe, segundo o  entrevistado, uma tendência dos CAPS se articularem com ouras instâncias e o  mesmo vê a formação como um elemento importante de unificar posturas. 
                                Quanto à idéia de que  eventualmente os CAPS possam estar reproduzindo uma lógica da hospitalização, o  entrevistado discorda de tal afirmativa. Mas reforça que é fundamental repensar  o serviço constantemente, mas sempre focando na idéia e fortalecimento de uma  rede. Para isso é importante haver uma descentralização da política de saúde  mental dos CAPS.
                                Destaca como dificuldades  atuais, o fato de alguns serviços estarem com inchaço ambulatorial muito  grande. Reforça que é necessário constituir uma rede ambulatorial ou uma  reorganização com a rede básica que tenha um acesso mais facilitado à consulta.  Contudo, pondera que tal prática nos CAPS cria atritos com a população que  chega. Outro ponto de atrito é a organização da demanda, a forma de equacionar  a questão da demanda e do acesso, problemas estes que às vezes criam  estrangulamento do serviço.  Contudo,  ressalta que na sua percepção, a população já reconhece o serviço como um  instrumento de assistência. 
                                Destaca que o momento que estão  vivenciando em Betim se refere à necessidade de revisão da rede;  necessidade de ampliação da rede no sentido  físico, do ponto de vista dos recursos humanos para poder acompanhar o  crescimento populacional. Identifica que essa é uma nova demanda de saúde  mental que está acontecendo. Se refere ao problema do álcool e das drogas que  está grande no município, à não concretização do CAPS ad, á cobertura pequena  do CAPS Citrolândia, embora tenha uma equipe completa.  
                                Passamos agora à análise do grupo focal realizado na cidade de Betim. 
                                Quando foi lançada a questão acerca da compreensão que os participantes  tinham sobre a conversação clínica,   deu-se um grande debate em torno dessa temática. Isso porque as  compreensões acerca da metodologia e de qualquer especificidade que pudesse  diferenciá-la da supervisão, por exemplo, foram muito distintas, com ênfase em  uma compreensão de que a conversação clínica não significa necessariamente, uma  mudança metodológica ou de postura e olhar em relação aos casos clínicos  discutidos. Um aspecto que nos chamou a atenção foi o fato de fazerem  referência nominal aos casos discutidos, resgatando especificidades de cada um,  participantes e  momento em que  ocorreram.
                                Sobre as possíveis diferenças entre conversação e supervisão foram  destacados alguns aspectos que destacamos a seguir. Foi mencionado que quem  conduz o processo da conversação dirige mais atenção às falas que são  proferidas sobre o caso. O que os participantes do grupo parecem identificar é  que é dada importância às diversas vozes que se expressam ao longo da  conversação clínica e isso é reconhecido como um elemento de grande  importância. 
                                
                                  
                                    O que eu achei  interessante, uma característica da conversação é que vários atores contribuem  com o caso e trazem alguma coisa: seja um relato, um relatório ou a apresentação  do caso. Eu achei isto muito interessante e como a colega colocou ali isto  trouxe um direcionamento do caso muito mais rico e detalhado e na supervisão  isto não acontece.
                                  
                                
                                Contudo, essa prática parece não ser associada somente ao espaço da  conversação clínica e durante o grupo focal foram mencionadas iniciativas que  aconteceram no CERSAM, com a presença de outros equipamentos como o SAMU,  albergue, por exemplo. Isso é compreendido como o aspecto da intersetorialidade  que reconhece autoridade em diversas pessoas e equipamentos na fala acerca do  caso. Mas essa não foi uma percepção geral.
                                Outro aspecto ressaltado é que essas vozes que participaram da discussão  sobre o caso clínico deveriam ter um coordenador que as reunisse e fizessem  possíveis sínteses sobre o caso. Parece, a partir do que foi expresso pelos  participantes do grupo focal, que a conversação clínica não possibilitou uma  unidade sobre o caso em discussão.
                                
                                  
                                    Eu acho que uma coisa muito  interessante são essas falas de diversos lugares sobre aquele caso. Mas uma  coisa que eu senti sim: falta coordenação, falta alguém para fazer um alinhavo  desses diversos depoimentos, dessas diversas colocações, dessas visões  diferenciadas. Faltou isto talvez. 
                                  
                                
                                Ao mesmo tempo, um participante destacou que, de acordo com a sua  percepção, essa era a diferença entre conversação e supervisão: a primeira não  teria ninguém para alinhavar enquanto a segunda partiria desse pressuposto.
                                Destacou-se, portanto, que em alguns momentos os responsáveis pela  condução da conversação clínica não tiveram posturas unificadas: se por um lado  havia uma perspectiva de construção coletiva, em alguns momentos apresentaram  sua perspectiva como “resposta final” do caso. Isso foi compreendido pelos  participantes do grupo focal como algo negativo.
                                
                                  
                                    No caso que eu participei a  da L. eu vi a diferença. A proposta da supervisão tem uma pessoa especial que  conduz essa fala central, um texto, tem a questão de ouvir vários atores, tem  toda uma rede de contato e senti que como eram vários atores não é supervisão.  Apenas tem vários atores tem uma equipe que também vinha fazer a supervisão eu  senti esta multiplicidade de atores tem esta questão. (...) eu acho que houve  também um posicionamento dos coordenadores. Foram um pouco heterogêneos.... Acho  que alguns conduziram de uma forma coletiva e outros se posicionaram de uma  forma como supervisores mesmo. No final deram um retorno exatamente como um  supervisor daria e de uma postura distanciada como a supervisão fazia etc. E  até no caso especifico desta paciente eu senti que teve alguma resistência de  alguma parte da equipe que tava falando, se colocando pois é um caso complicado  no sentido que tava interessado em continuar naquela construção coletiva. E  aquele retorno não foi bem no primeiro momento e depois a coisa até surgiu não  foi uma coisa tão ruim necessariamente, mas tava caminhando para um outro lado  e na hora que teve este retorno distanciado, como se fosse uma conclusão final,  uma hipótese diagnóstica, uma forma de conduzir uma direção para o caso como um  supervisor isto não foi bem próximo da proposta inicial. Então esta questão do  heterogêneo da coordenação que eu senti.
                                  
                                
                                Apontaram o caráter de levantamento de dados presente na conversação  clínica. Isto é, no momento em que ela acontece, seria objetivo da proposta  levantar informações de diferentes lugares para ajudar na compreensão do caso  clínico. Na supervisão, esse levantamento não aconteceria, já que seu objetivo  é uma reflexão sobre o caso a partir de um ponto de vista específico. Um dos  aspectos que fez com que os participantes associassem a conversação clínica com  supervisão foi a grande ênfase dada à definição do diagnóstico. 
                                Outro ponto destacado se refere ao acesso a várias informações que no  cotidiano de acompanhamento do caso os envolvidos não têm muito conhecimento. 
                                
                                  
                                    (...) no caso deste morador  da unidade terapêutica eu acho que foi um momento muito rico onde a gente pode  conhece melhor sua história tinha coisas que a gente desconhecia e foi possível  com a V. já disse como não teve imediatamente, tirar algumas conclusões. A  gente teve um tempo tal e inclusive fizemos algumas intervenções no caso. E na  próximo encontro a gente discutiu e foi muito positivo inclusive estas  intervenções, o que foi possível fazer a partir da conversação que a gente teve  no primeiro momento.  
                                  
                                
                                Foi destacado que em alguns momentos as conversações aconteceram com a  presença de pessoas que não conheciam o caso e tal fato foi avaliado pelos  participantes dos grupos focais como um ponto negativo. Fez-se referência ao  fato das conversações acontecerem no espaço das reuniões gerais. 
                                Outra percepção sobre a conversação clínica apontou para a importância do  estudo sobre o caso que não se da a partir de uma perspectiva exclusivamente  clínica. Foi destacada a importância da rede o que daria um viés também  institucional para a compreensão do caso clínico.
                                
                                  
                                    Essa seria a característica  mais nitidamente diferenciadora em relação a supervisão. Pois geralmente na  supervisão falta muito o estudo do caso. Estuda o caso em uma perspectiva  especifica clínica. Parece que a conversação do caso é uma coisa que envolve  toda uma rede onde este sujeito que ta sendo assistido, ta envolvido e ta  circulando.
                                  
                                
                                Um dos participantes dirá que a conversação clínica é uma metodologia  vinculada à coleta de dados de uma pesquisa. Dirá que não tiveram informações  sobre isso e que não houve um retorno para esclarecimento.
                                
                                  
                                    O que percebi nas  conversações é que foi uma coleta de dados acerca de um tema que era, no caso,  mais para algo que foi a pesquisa do que propriamente o que uma supervisão faz  que é um compromisso com a condução do caso a partir de alguma questão. O que  marca a característica maior é esta: o que a supervisão traz é um  posicionamento, um reposicionamento da equipe em função de alguma questão que  no caso clinico traz. O compromisso da supervisão é em cima do caso, em alguma  questão que o caso traz. E aí eu percebo muito mais uma coleta de dados, o  retorno posterior nem sempre era direcionado. Eu acho que teve diferença nesse  sentido eu percebi mesmo uma coleta de dados, aquele grupo tava colendo dados  para uma pesquisa de fim deles e nós não sabemos qual foi o retorno.
                                  
                                
                                Sobre o tema acima mencionado, fez-se uma ponderação que identificou na  equipe que conduziu a conversação clínica posturas de coleta de dados e  posturas de supervisão.  
                                Também foram muito diversas as compreensões sobre a prevalência de algum  profissional ou área de conhecimento na conversação clínica. Alguns  manifestaram que há um predomínio, associado à competência, dos olhares de  psicólogos e psiquiatras, enquanto outros manifestaram que todos teriam  capacidade de falar do caso discutido com legitimidade. Outros dirão ainda que  alguns profissionais ficaram inibidos durante a conversação clínica. Isso foi  associado à prevalência de uma linguagem mais psicanalítica. 
                                Destacou-se a importância de profissionais compreendidos como sendo “de  fora”. 
                                
                                  
                                    (...) eu acho também que  tem um olhar de fora que fala às vezes de algumas coisas que a gente que ta  aqui no dia-a-dia no cotidiano não percebe. Então assim se parece muito com  essa discussão de caso que a gente tem aqui internamente, mas tendo um de fora  além de organizar traz uma contribuição de um olhar de fora sobre algumas  coisas que passam meio batido no cotidiano nosso e é isto que eu acho que  contribui.
                                  
                                
                                Por fim, houve referência ao suporte da internet como um elemento que  caracteriza a conversação clínica. 
                                
                                  
                                    Eu queria localizar um  outro diferencial também que é a conversação ter um suporte na internet. Havia  lá uma página aonde você poderia mediante um cadastro colocar impressões, ou  seja, um suporte virtual que permitiria que outras considerações exatamente que  escaparam no momento coletivo pudessem ser apresentadas. Então eu acho que isto  também é um diferencial que este modelo da conversação trouxe.
                                  
                                
                                3.3. Localidade: Buritizeiros/MG
                                Aspectos Metodológicos 
                                O grupo focal foi agendado por telefone, juntamente com a coordenadora da  política de saúde mental do município, com 15 dias de antecedência. Foram  enviadas as cartas convites e assinados os Termos de Consentimento Livre e  Esclarecido. Foi realizado no dia 20 de Janeiro de 2009, pela manhã. O Grupo  focal contou com a participação de 10 profissionais, sendo que três deles  mantiveram-se como observadores, já que não participaram de nenhuma conversação  realizada no serviço. O grupo teve uma duração de 40 minutos e foi realizado  durante o expediente do CAPS. Dentre os 07 participantes ativos estavam a  coordenadora do CAPS (terapeuta  ocupacional), 01 técnica de  enfermagem, 01 motorista, 01 enfermeira (que  no momento das conversações era técnica do serviço e atualmente está na  coordenação da política de saúde do município), 01 cuidadora e 02 psicólogas, sendo que uma delas está na  coordenação da política de saúde mental de Buritizeiro. 
                                A equipe manteve-se bastante amistosa durante a realização do grupo focal  e a maior parte dos participantes falou pouco. O grupo debateu pouco as  questões propostas pelo moderadores e as respostas eram dadas, muitas vezes, em  caráter de afirmação ou negação, com escassez de contraposições e argumentos.  Observou-se pouca discordância entre as opiniões e posições dos integrantes.
                                Uma das participantes, com função de coordenação, posicionou-se bastante  e assumiu as falas no grupo, em grande parte das questões levantadas pelo  moderador. Especialmente neste município, observou-se a presença de três  profissionais com função política de viés institucional, de forma mais  concreta.
                                Os participantes pareceram ter vínculos bem estreitos entre si, e alguns  deles já trabalham juntos no serviço há mais de cinco anos. 
                                Resultados
                                Os participantes demonstraram ter pouco conhecimento sistematizado acerca  das conversações clínicas. Poucos conseguiram associar o nome da metodologia à  atividade desenvolvida. Alguns deles sabiam da existência da pesquisa, mas não  conseguiram fazer nenhuma associação a quaisquer outras informações.
                                As definições que surgiram para a conversação clínica estão relacionadas  com o entendimento do caso clínico ou com a avaliação desse caso:
                                
                                  
                                    Eu acho que é a discussão  aprofundada do caso, suposições relacionadas à teoria... será que é?, será que  não é?, Por que ele tá assim, o que levou a buscar a origem e entender mais o  paciente...
                                    Eu acho que é avaliar a  conduta do paciente.
                                  
                                
                                Os participantes afirmaram que não possuíam espaço formal para a  discussão dos casos acompanhados pelo serviço. Afirmam também que essas  discussões aconteciam muitas vezes pelos corredores ou em encontros de duas ou  mais pessoas da equipe no expediente de trabalho. Os participantes afirmam que  a conversação clínica subsidiou a existência de um espaço formal de discussão  dos casos, com a participação de toda a equipe.
                                
                                  
                                    Nossa discussão era tão  superficial a gente pegava o caso e discutia o que tava acontecendo só naquele  momento. E acontecia muito na troca de plantão e nos corredores.
                                  
                                
                                Alguns participantes apontam a condução das conversações como um elemento  importante. Para eles, a presença de um interventor externo trouxe várias  contribuições para o entendimento dos casos discutidos e para a forma como o  serviço vinha conduzindo o projeto terapêutico do usuário.
                                A participação de todos da equipe durante as conversações também foi um  aspecto positivo salientado pelo grupo. Alguns participantes afirmam que a  conversação possibilitou a contribuição de cada integrante da equipe, que se  comprometeu de forma diferenciada na condução do caso. O fortalecimento da  equipe também foi citado como contribuição advinda das conversações.
                                
                                  
                                    ...Começamos a perceber um  monte de coisa que não percebíamos. Cada profissional falou algo e a gente  conseguiu entender porque que acontece[...]
                                  
                                
                                A interação entre a equipe mudou após as conversações clínicas. Os  participantes afirmam que conseguem se comunicar melhor entre si e trocam  informações e opiniões acerca dos casos, com mais intensidade. Segundo um dos  participantes, algumas pessoas que tinham dificuldade em dar suas opiniões, as  reportam com mais facilidade aos colegas de trabalho.
                                
                                  
                                    Tem muita coisa que a gente  ouve que os técnicos às vezes não sabem... e a gente tem liberdade de passar  isto para os técnicos.
                                  
                                
                                Obtivemos poucas informações específicas acerca do impacto das  conversações sobre a compreensão do  caso clínico.. Os participantes apontaram impactos e contribuições, geralmente  relacionadas com o modelo de discussão de casos realizado no serviço e com a  organização do trabalho em torno do projeto terapêutico (relação da equipe, tomadas de decisão, fluxos, procedimentos).
                                A participação de técnicos de outros serviços nas conversações foi  mencionada pelos participantes. Contudo, eles não associaram tal participação a  uma especificidade da conversação clínica, mas a uma diretriz da política  adotada no município. Uma enfermeira da saúde básica foi convidada a participar  de uma das conversações, mas não compareceu. Os participantes afirmam que a  articulação com outros serviços da rede já acontecia, antes mesmo da  experiência das conversações.
                                
                                  
                                    O paciente na realidade é  da atenção primaria, a responsabilidade do paciente é da atenção primária [...]  por isto que o PSF entrou.
                                  
                                
                                Os participantes afirmam que as conversações trouxeram contribuições para  a relação com a família do usuário. Um dos participantes disse que, após a  discussão de um dos casos, a equipe percebeu que o projeto terapêutico deveria  atingir também os familiares do usuário. Os participantes não apresentaram  muitos argumentos para essa afirmação, atendo-se apenas a afirmar que existiram  contribuições na relação do serviço com a família.
                                Dois participantes acreditam que a conversação clínica não privilegia  nenhum saber, experiência ou abordagem. Eles argumentam que na equipe, ninguém  sabe mais que ninguém e que as pessoas participaram das discussões,  independente da abordagem teórica ou da categoria profissional que representam.  O restante do grupo não se manifestou em relação a essa questão.
                                
                                  
                                    Aqui mesmo antes nunca teve  um saber maior. Aqui todo mundo sempre contribuiu
                                    ...Com certeza. A  conversação clinica não privilegia nenhum saber.
                                  
                                
                                Percebemos durante o grupo focal que as falas ficaram bastante  centralizadas numa profissional com função de coordenação. Alguns  participantes, especialmente os de nível médio, mantiveram-se amistosos em  relação ao debate. Essa postura não condiz com as afirmações de que as  participações nas conversações foram democráticas e horizontais, ainda que tais  posturas possam estar relacionadas com o caráter investigativo do encontro e  com a presença de um número significativo de profissionais envolvidos com a  coordenação técnica e política do serviço.
                                Os participantes frisaram bastante o aspecto organizacional que as  conversações apresentaram para o serviço. A existência de um espaço formal de  discussão clínica e a construção coletiva do projeto terapêutico do usuário  possibilitou uma reorganização da equipe frente ao caso. Como a equipe não  havia adotado nenhuma metodologia de discussão de casos no serviço, a  conversação clínica apresentou impacto significativo no CAPS de Buritizeiros.  As conversações possibilitaram à equipe, pela primeira vez, sistematizar os  conhecimentos, formais e informais, técnicos ou não, num espaço de discussão e  reflexão coletiva.
                                Os participantes apresentaram como principais dificuldades para a  consolidação das conversações o fechamento do serviço para a realização dos  encontros e a dificuldade em encontrar uma agenda comum entre a equipe. 
                                
                                  
                                    Eu acho que [um aspecto  negativo] foi parar o serviço e reunir todos os profissionais. Eu acho  complicado parar o serviço. As pessoas muita das vezes não entendem porque o  serviço parou.
                                    Mas pelo menos deu outra  visão para gente da aonde a gente ta falhando.
                                  
                                
                                3.4.  Localidade: Governador Valadares/MG
                                Aspectos  Metodológicos 
                                O grupo focal foi agendado por  telefone, juntamente com uma técnica do serviço devido à mudança da  coordenadora da política de saúde mental do município, com 15 dias de  antecedência. Foram enviadas as cartas convites e assinados os Termos de  Consentimento Livre e Esclarecido. Foi realizado no dia 28 de janeiro de 2009,  às 14:30, no próprio CAPS de Governador Valadares. O grupo focal contou com  participação de 08 profissionais. O grupo teve duração de 01 hora. Dentre os  participantes, obtivemos 05 psicólogos, sendo que 02 delas (no momento das  conversações eram técnicas do serviço e atualmente são técnicas do CAPSad), 01  assistente social, 01 terapeuta ocupacional e 01 farmacêutica.
                                Devido à acústica do lugar onde  foi realizado o grupo a gravação não ficou com qualidade desejável,  proporcionando perda de algumas informações.
                                  Todos os participantes deram  contribuições no grupo focal e apresentaram poucos pontos de discordância,  aparentando coerência entre suas opiniões e colocações.  
                                A coordenadora do serviço não  participou do grupo. Recebeu a equipe de pesquisa e apresentou o espaço físico  do serviço. A mesma está na coordenação do serviço recentemente e não  participou das conversações clínicas.
                                Resultados
                                Os participantes têm  conhecimento da existência da pesquisa e associaram as conversações clínicas a  uma de suas atividades. Contudo, demonstraram ter poucos conhecimentos sobre a  conversação clínica e seus fundamentos. Uma técnica apresentou dúvida entre a  conversação clinica e a supervisão clinica ministrada pelo Ministério da Saúde  uma vez que as duas aconteceram na mesma época.
                                  As definições que surgiram para  a conversação clínica estão relacionadas com o entendimento do caso clínico ou  com a avaliação desse caso:
                                
                                  
                                    É falar sobre um caso  clinico discutir o caso clinico é colher dados do paciente. 
                                    Conversar, discutir sobre  os casos clínicos aprofundar na discussão a partir da história de vida do  sujeito, do paciente. 
                                  
                                
                                Os participantes afirmaram que  as discussões dos casos acompanhados pelo serviço acontecem geralmente nas  reuniões de equipe, mas salientam que tais discussões acontecem de uma forma  bem informal onde cada profissional relata o seu ponto de vista sobre o caso.  Relatam que essas reuniões ficam presas a assuntos administrativos, na maioria  das vezes. Afirmam também que essas discussões aconteciam muitas vezes pelos  corredores ou em encontros de duas ou mais pessoas da equipe no expediente de  trabalho. 
                                Os participantes afirmam que a  conversação clínica subsidiou a consolidação de um espaço formal de discussão  dos casos, com a participação de toda a equipe e manifestaram o desejo de  institucionalizar esse espaço de discussão no serviço. Relatam que devido à  mudança de coordenação, as reuniões semanais foram suspensas temporariamente, e  quando retornarem tem como objetivo utilizar a conversação clínica como modelo  de discussão de casos. 
                                A participação de todos da equipe  durante as conversações foi um aspecto salientado no grupo. Alguns  participantes afirmam que a conversação possibilitou a contribuição de cada  integrante da equipe, que se comprometeu de forma diferenciada na condução do  caso. Os participantes afirmam que   anteriormente essa participação não era possível pela falta de tempo  oriunda do grande número de demandas que o serviço recebe, especialmente as  demandas administrativas e gerenciais. 
                                
                                  
                                    Muitas vezes vê o ponto de  vista do colega como a D. colocou é complicado... o serviço tem muita demanda e  as vezes a gente se fecha muito com uma falta de tempo, de chegar todo mundo e  conversar, e as vezes a gente tem quer resolver tudo sozinho... e quando a  gente traz o caso para todo mundo a gente acaba dividindo isto um pouco, a  gente dilui o caso, dilui um pouco a responsabilidade, dilui os pensamentos em  relação aquilo que está acontecendo, a gente acaba ajudando um ao outro  contribuindo muito.
                                  
                                
                                Os participantes afirmam que as  discussões que realizaram nas conversações os ajudaram muito a compreender  melhor os casos discutidos, compreender a história do paciente. Tal fato foi  possível com a sistematização do caso. As discussões de casos anteriormente  eram muito fragmentadas e muitas informações sobre o caso se perdiam. Assim,  com a sistematização do caso e com a coleta de informações sobre sua trajetória  institucional, as conversações contribuíram para uma melhor compreensão dos  casos discutidos e uma mudança na conduta institucional, na elaboração de seu  projeto terapêutico.
                                
                                  
                                    [...] às vezes nessa  conversa a gente detecta algum furo na conduta de algum profissional acredito  que a gente discutia a posição de forma de trabalhar a pessoa naquela função e  de repente é colocar uma possível mudança [...]
                                  
                                
                                Segundo os participantes as  conversações clínicas proporcionaram uma reflexão sobre a prática de cada  profissional no cotidiano do serviço. Tal fato possibilitou a identificação de  alguns estrangulamentos relacionados com a conduta profissional de cada técnico  e com o próprio serviço. Um dos profissionais cita como exemplo a falta de  capacitação de alguns profissionais, que apresentam uma postura preconceituosa  em relação ao usuário do serviço.
                                
                                  
                                    Uma outra coisa também a  falta de capacitação para a equipe e muitas das vezes alguns profissionais da  equipe não entendem o paciente e agem de forma preconceituosa.
                                  
                                
                                Outro aspecto salientado pelos  participantes e associado às dificuldades para concretizar os objetivos da  conversação clínica foi a pouca identificação de alguns profissionais com a  área de saúde mental. Os participantes citam também a falta de estrutura do  serviço como elemento dificultador para a garantia da qualidade das  conversações clínicas. Mencionaram como exemplo, a falta de transporte que  dificulta a ida do usuário para o serviço, interferindo assim na eficácia de  seu projeto terapêutico.
                                Todos os participantes do grupo  focal possuem nível superior. Segundo eles, alguns profissionais de nível médio  e fundamental participaram das conversações, ainda que apenas como  observadores. Eles afirmam que a participação destes profissionais é de suma  importância para a compreensão do caso clinico, devido aos vínculos que são  estabelecidos entre estes profissionais e os usuários. O grupo acredita que  falta um envolvimento destes profissionais com o serviço.
                                
                                  
                                    Eu acho que é a falta de  interesse de alguns profissionais... acaba que os técnicos envolvem mais que os  outros profissionais... é uma falta de interesse mesmo.
                                    No dia eu lembro deles  terem dando contribuição, ficaram mais observando... contribui... eles vão  contribuir, muito depois que eles começam a dizer como é a realidade...  acredito, eu acredito que eles têm muita coisa boa, mas no dia ficaram mais  observando mesmo.
                                  
                                
                                Os participantes afirmaram que  nas conversações clinicas não convidaram profissionais de outras instituições.  Segundo eles, estavam presentes nas conversações apenas os profissionais do  serviço. Mas salientam a importância da presença de profissionais de outros  serviços, fato que está acontecendo nas supervisões clínicas. 
                                
                                  
                                     Eu acho importante porque [...] falta  informação o que é a saúde mental. [...] é importante envolver todos os atores  da rede.
                                    [...]   melhorou demais o vínculo com as outras  instituições até o paciente que é encaminhado já está mais direcionado  realmente no serviço. Ele entende melhor a demanda [...] não é todos não que  estão conscientes e absorveram tudo não, mas está bem mais direcionado. E as  outras instituições já conhecem o serviço acredito que está mais estreita essa  relação. 
                                  
                                
                                Ainda que essa experiência  intersetorial tenha sido citada como quesito importante para uma boa discussão  de casos, essa consciência não é associada às conversações clínicas, mas ao  processo de supervisão que recebem do Ministério da Saúde e da política do município. 
                                O grupo aponta a psicanálise  como uma abordagem que é privilegiada nas conversações clínicas. Os  participantes dizem que a psicanálise é a abordagem teórica que norteou as  conversações. Os participantes de outras abordagens teóricas reconhecem a psicanálise  como abordagem privilegiada, mas afirmam que isso não inviabiliza suas  participações e contribuições. A partir das informações coletas no grupo,  percebemos que existe uma hegemonia do saber técnico-científico nas discussões  da equipe.
                                
                                  
                                    Eu não sou psicanalista  não, mas eu acho que privilegia [...] eu não me senti excluída da discussão,  mas acho que privilegia.
                                    Privilegia a psicanálise,  mas encontrei espaço para expor meu ponto de vista que é comportamental. 
                                  
                                
                                Os participantes afirmam que as  conversações possibilitaram detectar algumas dificuldades como a falta de  organização da equipe em realizar discussões sobre os casos. A principal  dificuldade apresentada pelo grupo foi o trabalho em equipe. Segundo eles as  conversações potencializaram o trabalho coletivo e que isso, muitas vezes,  apresenta limites e dificuldades para o serviço. Outra dificuldade apresentada  pelo grupo foi a sensibilização dos profissionais médicos pára a importância  das discussões de caso. Os psiquiatras do serviço não estiveram presentes em  nenhuma conversação e nem no grupo focal de avaliação.
                                
                                  
                                    A organização da equipe em  todas as discussões de caso... a gente não para devido a demanda excessiva que  faz que a gente não compartilha as questões, não compartilha o caso. A dificuldade  de trabalhar com equipe, a equipe tem muito isto o caso é meu, eu conduzo. Eu  acho que a conversação apontou isto... uma melhor organização, um maior  trabalho de equipe.
                                    [...] eu sinto esta falta  de discussão de caso, temos muitas dificuldades no dia-a-dia.
                                    Os médicos psiquiatras  nunca participam de nada, nem das reuniões de equipe é preciso uma melhor  organização da equipe como diz a R.
                                  
                                
                                3.5. Localidade: Perdões/MG
                                Aspectos Metodológicos 
                                O grupo focal foi agendado por telefone, juntamente com o coordenador da  política de saúde mental do município, com 20 dias de antecedência. Foram  enviadas as cartas convites e assinados os Termos de Consentimento Livre e  Esclarecido. Foi realizado no dia 30 de janeiro de 2009, às 09:00 h, no  expediente do CAPS. O Grupo focal contou com a participação de 08  profissionais. O grupo teve uma duração de 52 minutos. Dentre os participantes,  obtivemos 05 psicólogas (sendo que uma  delas está na coordenação da política de saúde de mental do município e na  coordenação do CAPS), 01 técnico de enfermagem, 01 auxiliar de  enfermagem e 01 enfermeira.
                                Quase todos os participantes deram contribuições no grupo focal, sendo  que uma das profissionais optou por não se manifestar no grupo. Alguns debates  aconteceram, com a presença de argumentos e reflexões. O grupo demonstrou  poucos pontos de discordância, aparentando coerência entre suas opiniões e  colocações.
                                Apesar da contribuição de todos, percebemos que a coordenação do CAPS e a  equipe técnica de nível superior manifestaram-se mais que os outros  participantes.
                                A maioria dos integrantes da equipe reside no município de Perdões, com  exceção de duas que moram em Lavras. A equipe, no geral, possui mais de 02 anos  de atuação no serviço.
                                Neste município, um dos usuários que foi objeto das conversações clínicas  manifestou interesse em participar do grupo focal. Por questões metodológicas,  acreditamos que sua participação poderia prejudicar o caráter avaliativo da  atividade e decidimos, juntamente com a equipe, não acatar o desejo do usuário.
                                Resultados
                                Os participantes demonstraram ter pouco conhecimento sistematizado acerca  das conversações. Poucos conseguiram associar o nome da metodologia à atividade  desenvolvida. Alguns deles sabiam da existência da pesquisa, mas não  conseguiram fazer nenhuma associação a quaisquer outras informações.
                                As definições que surgiram para a conversação clínica estão relacionadas  com a resolução de problemas vivenciados no serviço e com a compreensão  sistematizada de casos que apresentam dificuldades de condução. 
                                
                                  
                                    [...] é discutir na reunião  clinica assim os problemas do dia-a-dia. É uma maneira da a gente passar o que  acontece no nosso serviço e conhecer também o que acontece no serviço de outros  lugares [...] e a gente discuti também o que deve ser feito, como está sendo  feito o meu modo de pensar é este.
                                    É também o aprofundamento  do caso também articular teoria e clinica no dia-a-dia aprofundando, e isto  está na visão de outras pessoas, reunindo a opinião de outras pessoas, uma  avaliação que vem de fora [...] Então na conversação a gente vai tentar  levantar dados bem relevantes da história clinica do paciente e articular  teoria com a prática.
                                  
                                
                                O grupo afirmou que possui um  espaço já consolidado para discussões de casos. Ele ocorre numa periodicidade  semanal e, apesar de absorver demandas administrativas e gerenciais, possui  objetivo específico de discutir os casos do serviço. Segundo os participantes,  essas discussões semanais já acontecem há muitos anos, desde o início da  implementação do serviço no município. Durante parte do grupo focal, os  participantes manifestaram suas impressões em relação à conversação clínica,  buscando compará-la com o modelo de discussão que possuíam no serviço. 
                                A maioria dos participantes teve dificuldades para encontrar diferenças  entre a conversação clínica e o modelo de discussão que a equipe adotou  anteriormente. Eles apresentam uma série de aspectos positivos percebidos nas  conversações realizadas, mas não associam esses aspectos à conversações em si,  mas ao método que eles já adotavam para as discussões. Para eles, as principais  diferenças percebidas são o exercício da escrita, que visou sistematizar a  trajetória do caso clínico desde o início dos atendimentos na rede do  município; a presença de um interventor externo, que contribuiu para a equipe  localizar falhas, posturas e condutas que não deveriam ser adotadas, assim como  os potenciais do serviço e da equipe; e a utilização e disponibilização das  produções da equipe em ambiente virtual, para acesso de outros serviços.
                                
                                  
                                    Tem a questão do olhar do  outro, de um suposto saber, olhar daquele que está de fora.
                                    [...] Isto inclui. Eu acho  que é a principal o ato de escrever.
                                    Diferente da que a gente  vai ter no cotidiano, ela é voltada pra outros pra outros lugares. Então isto  diferencia sim.
                                  
                                
                                A equipe tentou justificar a  escassez de diferenças entre a conversação clínica e o método de discussão de  casos adotado no serviço nas orientações a que o CAPS do município se submete.  Segundo alguns participantes, todos os princípios que fundamentam as  conversações e o trabalho do CAPS de Perdões já constam nos documentos oficiais  que regulamentam a política de saúde mental do país e o que a equipe faz é  apenas colocá-los em prática.
                                
                                  
                                    Foi muito claro na portaria  do ministério, na própria portaria do CAPS [...] a própria lei 10.216 ensina a  gente a trabalhar de uma maneira intersetorial, de uma maneira interdisciplinar  ela mostra os caminhos então a gente já vem trabalhando nessa diretriz do  ministério, da reforma psiquiátrica também, da luta anti-manicomial que já  mostra e dá este norte como projeto terapêutico, do técnico de referencia, da  equipe, da construção coletiva, da inclusão da comunidade...
                                    A gente não fez nada  demais, a gente só seguiu os princípios da reforma psiquiátrica assim fomos  bons alunos e fizemos as coisas nos princípios da reforma.
                                    
                                  
                                Os participantes citam uma série  de contribuições advindas do espaço de discussão de casos, inclusive os que  aconteceram no modelo das conversações, ainda que não associem essas  contribuições às conversações clínicas. Uma delas está relacionada com a  compreensão do caso clínico. Segundo os participantes, o exercício da reflexão  coletiva dos casos proporciona à equipe uma melhor compreensão dos casos  estudados e, conseqüentemente, reposiciona a equipe diante desse caso. Alguns  participantes afirmam que as decisões tomadas pela equipe a partir das  discussões de caso permitem uma apropriação dos procedimentos e condutas que  devem ser realizadas, dando a cada profissional, maior segurança do trabalho realizado.  Eles afirmam também que o usuário, após ser objeto de discussão, passa a ser  visto pela equipe de forma diferenciada, como o protagonista de seu projeto  terapêutico.
                                
                                  
                                    Para mim foi este olhar  isento de juízo de valor dessa escuta crítica que fez a gente pensar a prática  a partir de um olhar psicanalítico... A partir uma visão que vem contribuir  para cada vez mais olhar o sujeito aqui dentro é o que a gente busca todos os  dias, olhar quem está aqui como sujeito de direitos.
                                    Eu acho que é compartilhar  os saberes e o dia-a-dia às vezes não permite a gente parar um pouco mais, a  gente parar, a gente pensa, a gente reflete, mas quando a gente ta sentada com  pessoas fora daqui, pessoas que querem contribuir de alguma maneira com o  coletivo e para gente compartilhar e para a gente entender.
                                    
                                  
                                Os participantes afirmam também  que o espaço de discussão coletiva proporciona a participação e contribuição de  todos os profissionais da equipe. No grupo focal, quase todos os profissionais  presentes são de nível superior. Eles afirmam que os outros profissionais foram  convidados, mas não puderam participar. As duas profissionais de nível médio  que estavam no grupo mantiveram-se em postura amistosa, e falaram pouco. O que  se percebe é uma prevalência do saber técnico-científico, tanto nas discussões  dos casos, quanto no grupo focal, que pareceu inibir tais profissionais. 
                                A equipe afirma também que a  psicanálise é a abordagem teórica privilegiada nas discussões de casos  clínicos. Para os participantes, a psicanálise é um norte teórico que guia a  equipe nas discussões, condutas e deliberações. Apesar de toda a equipe  reconhecer esse fato, não o vê negativamente. Eles afirmam que ter a  psicanálise como orientação privilegiada não inviabiliza a participação de  profissionais que não dominam essa abordagem ou que possuem outros vieses  teóricos. Vale lembrar que o grupo focal contou, basicamente, com profissionais  da psicologia o que, pelas informações coletas, verificou-se também nas  conversações clínicas. 
                                
                                  
                                    Tem a psicanálise porque a  psicanálise dá uma base, um norte teórico mesmo para a nossa prática. A saúde  mental é muito ampla ela é o intercruzamento de várias teorias desde as teorias  sociais até a psicofarmacologia, a psicanálise, as ciências políticas, as  ciências sociais, a [...] então a saúde mental é intercruzamento de várias  áreas e psicanálise contribui muito porque ela norteia.
                                    [...] sempre que vamos  trabalhar um termo escolhemos um texto psicanalítico.
                                    O C., nosso porteiro, por  exemplo, contribui muito, o pessoal da limpeza contribui muito, o acompanhante  terapêutico no caso do D,. do primeiro caso, contribui muito... então  independe...[da abordagem].
                                  
                                
                                Além dos técnicos da equipe do  CAPS, participaram também das conversações clínicas outros representantes de  serviços e organismos do município.  A  equipe referencia essa prática como essencial para a construção de um projeto  terapêutico eficaz, ainda que não faça referência dessa diretriz às  conversações clínicas. Percebemos com as informações dadas pelos participantes  que existe um esforço do serviço em promover debates e discussões  intersetoriais.
                                
                                  
                                    No primeiro momento no caso  especifico teve vários outros parceiros, a rede de atenção como, por exemplo, a  APAE é um caso de um menino o Diego e todas as pessoas que estavam envolvidas  no caso articulado no projeto terapêutico dele vieram participar. Então veio a  APAE, veio uma creche que ele freqüenta, veio o conselho tutelar porque é  menor, a família.
                                    É interessante que no  segundo caso na verdade foi o fragmento do caso porque foi um caso... um outro  tipo de caso de um paciente que é usuário de drogas abusivo e estava nos  problemas aqui, na rede, na comunidade etc. Então vieram outros atores... nesse  caso veio até o juiz da cidade, ele veio na reunião porque foi um dos parceiros  do projeto nosso terapêutico. Então todos envolvidos vieram o conselho tutelar  também porque é um menor todos os envolvidos vieram nessa conversação clinica  além do pessoal do CERSAM porque aqui hoje só tem o pessoal do CERSAM.
                                  
                                
                                O grupo afirmou também que o  processo da pesquisa CLINICAPS motivou muito a equipe em seus trabalhos.  Segundo os participantes, a presença de alguém de fora e o incentivo à  sistematização escrita do caso possibilitou a equipe repensar sua postura no  serviço e buscar formas diferentes construir o caso clínico e intervir nele. A  sistematização escrita foi citada tanto como elemento positivo, quanto como  dificultador já que, segundo alguns participantes, possuem dificuldades para  escrever e sistematizar o que pensam e refletem.
                                
                                  
                                    Outra contribuição  importante é parar para escrever o caso, de parar para construir coletivamente  aquele caso. As vezes o serviço de saúde mental as coisas vão acontecendo assim  muito rápido e a gente tem este momento de discussão clinica,  de reunião mas nunca assim teve uma pesquisa,  uma coisa assim mais estruturada que veio para saber realmente o que a gente  pensar, as direções que a gente está tomando no trabalho.
                                    Outra contribuição é o  incentivo mesmo de saber que a gente está trabalhando na direção certa [...] o  reconhecimento de quem de fora vem reforçar
                                  
                                
                                3.6.  Localidade: Santos Dumont/MG
                                Aspectos Metodológicos 
                                O grupo focal foi agendado por telefone, juntamente com o coordenador da  política de saúde mental do município, com 15 dias de antecedência. Foram  enviadas as cartas convites e assinados os Termos de Consentimento Livre e  Esclarecido. Foi realizado no dia 17 de Dezembro de 2008, às 18:00, em espaço  privado, localizado em Juiz de Fora. O Grupo focal contou com a participação de  09 profissionais. O grupo teve uma duração de 53 minutos. Dentre os  participantes, obtivemos 03 psicólogos (sendo  que um deles está na coordenação da política de saúde de mental do município e  na coordenação do CAPS), 01 técnico de enfermagem, 01 motorista, 02 enfermeiras,  01 recepcionista e 01 copeira.
                                A equipe da pesquisa esteve com os participantes do grupo focal algumas  horas antes de sua realização, o que permitiu uma pequena aproximação entre  essas partes. Quase todos os participantes deram contribuições no grupo focal e  notamos que o coordenador do CAPS buscou incentivar e motivar a fala de todos  no grupo. Alguns debates aconteceram, com a presença de argumentos e reflexões.  O grupo demonstrou poucos pontos de discordância, aparentando coerência entre  suas opiniões e colocações.
                                Apesar da contribuição de todos, percebemos que a coordenação do CAPS e a  equipe técnica de nível superior manifestaram-se mais que os outros  participantes. 
                                  A equipe do CAPS de Santos Dumont, desde o início das atividades do  serviço recebe supervisão clínica. Por um período de tempo, essa supervisão foi  coordenada por um dos membros da equipe central da CLINICAPS (Wellerson Alkmim). O Coordenador do CAPS,  ao se posicionar no grupo focal, apresentou argumentos e fundamentos similares  aos apresentados no corpo teórico desta pesquisa. Ele demonstrou ter profundos  conhecimentos acerca da pesquisa CLINICAPS e de sua proposta.
                                Alguns dos participantes residem no município de Santos Dumont, outros  moram em Juiz de Fora. A maioria deles está no serviço há mais de 02 anos.
                                Resultados
                                Os participantes têm conhecimento da existência da pesquisa e associaram  as conversações clínicas a uma de suas atividades. Os participantes conhecem  bastante alguns membros da equipe de pesquisa, especialmente Wellerson Alkmim,  e várias vezes fizeram referência aos mesmos. Com exceção do coordenador e de  uma psicóloga, o restante da equipe soube dar poucas informações específicas  sobre a pesquisa, sua metodologia, objetivos, etc. 
                                As definições que surgiram para a conversação clínica estão relacionadas  com o entendimento do caso clínico ou com a avaliação desse caso:
                                
                                  
                                    Foi a construção de um caso  clinico do paciente com o objetivo de saber o objetivo do tratamento, a  conduta.
                                    [...] discutir o caso  clínico e definir uma direção terapêutica.
                                    [...] trabalhar os impasses  dos casos, daqueles mais complexos, tenta   tirar um certo norte que possa através de  casos mais paradigmáticos orientar  também a condução  institucional diante de outros casos.
                                    Tinha momentos na supervisão...  a sensação que eu tinha que estamos montando um quebra-cabeça e cada um vinha  com uma peçinha.
                                  
                                
                                Segundo os participantes, as discussões de casos são uma prática antiga e  rotineira no serviço e acontecem em modelo de supervisão ou durante as reuniões  de equipe. Durante parte do grupo focal, os participantes manifestaram suas  impressões em relação à conversação clínica, buscando compará-la com o modelo  de discussão que possuíam no serviço. 
                                A maioria dos participantes teve dificuldades para encontrar diferenças  entre a conversação clínica e o modelo de discussão que a equipe adotou  anteriormente. Eles apresentam uma série de aspectos positivos percebidos nas  conversações realizadas, mas não associam esses aspectos às conversações em si,  mas ao método que eles já adotavam para as discussões.
                                Um dos argumentos apresentados para justificar a ausência de diferenças  entre esses métodos foi a relação já estabelecida com um dos membros da equipe  central da CLINICAPS, que já desenvolveu supervisões clínicas com a equipe.  Possivelmente, as supervisões clínicas oferecidas à equipe foram realizadas no  modelo das conversações clínicas, e seus fundamentos foram incorporados na  metodologia de discussão de casos adotada pela equipe.
                                
                                  
                                    Eu penso que pelo fato da  gente ter uma transferência do trabalho, que já tinha sido instaurando antes,  no inicio da conversação com o Léo... e depois também, além da conversação  clinica, a gente manteve a supervisão a partir do edital do CAPS... as  supervisões dos CAPS. Eu não sei mas tive a impressão que a conversação foi  muito parecida da forma que era conduzida a supervisão por ele. A forma  continua mesmo não vinculada à conversação. Na supervisão e na conversação eu  não vi muito diferença não.
                                    Eu acho que para gente, a  gente já conhecia o Léo, foi muito tranqüilo... pelo menos eu tive a impressão  que foi uma supervisão como as outras que a gente já teve.
                                    Eu particularmente acho que  ela trouxe muitas contribuições tal qual a supervisão eu não to vendo essa  diferenciação. A conversão clinica teve os efeitos que a supervisão traz,  funcionou na forma que a supervisão funciona. Já tínhamos supervisão antes e  continuou depois... para mim não foi um processo novo.
                                    Na verdade quanto o CAPS  foi montando em 2000 a gente sempre trabalhou com supervisão, a gente passou um  ano ou dois anos sem antes da volta do Léo, mas deu do inicio a gente tinha uma  pratica de conversar de ter supervisão. As supervisões eram muito parecidas com  a forma que o Léo trabalhou porque tem uma orientação psicanalista.
                                    A conversação foi a  inauguração da volta da supervisão... ele aconteceu antes do inicio das  supervisões via ministério... foi o primeiro momento e logo depois a gente  conseguiu aprovar o projeto com o ministério e então teve uma seqüência de  supervisões... continuou as conversações vamos dizer assim
                                  
                                
                                Os participantes afirmam que as  discussões que realizaram nas conversações os ajudaram muito a compreender  melhor os casos discutidos. Essas discussões foram importantes para conhecer  aspectos do usuário que não eram compartilhados por todos e para a construção  de um olhar diferenciado da equipe sobre o caso. A partir dessa compreensão, os  participantes disseram que a conduta com o paciente mudou. Mudou também a forma  como cada um da equipe via o usuário e se relacionava com ele. Outra  contribuição apresentada pelos participantes foi a utilização do aprendizado  adquirido na discussão de um caso, que passou a ser incorporado na conduta com  outros pacientes, e na discussão de outros casos.
                                
                                  
                                    Eu acho o seguinte que foi  a gente entender o paciente mais, a gente colocar no lugar do paciente, a gente  ouvir mais o paciente. As vezes quando a gente se incomodava com o caso a gente  tinha medo e foi aonde que a gente começou através desse paciente que foi um  aprendizado muito grande para a equipe a gente passou a trabalhar melhor e  talvez foi até por isto que também que rompemos as internações através dessa  primeira vez que nós trabalhamos assim
                                    Depois a gente começou a  fazer a reunião em equipe e foi melhorando para gente até para trabalhar o  objetivo ficou mais fácil.     A gente  chegava no serviço já sabia mais ou menos o paciente que tava entrando em  crise, a gente passou a prestar mais atenção nos pacientes que começou a mudar,  as vezes ele tava estabilizado mas começava a mudar a gente já dava conta  porque a conversação que a gente deve através da supervisão e começamos a  observar mais os outros pacientes também não só o que foi falando no caso e  outros começou a ficar mais fácil de agente trabalha
                                    Eu acho que a gente conseguiu  vê-lo de uma outra forma que a gente não tinha percebido antes
                                    O que acontecia eu sou o  motorista e eu vou lá pegar o D. e trago o D. para CAPS e ele não era ouvido,  não era atendido [...] o paciente ficava aí sem atendimento. E depois quando  teve a supervisão foi exatamente quando começou a mudar, a prestar a atenção no  D. e foi exatamente aí que começou a ter um atendimento diferenciado, todo  mundo em cima trabalhando e antes você botava o paciente lá ele ficava sentado  e os próprios pacientes ficavam com medo dele [...] ele passou a ser uma pessoa  importante e foi assim que o caso foi melhorando rápido.
                                    Eu mesmo interferi no  caso  si acontece alguma coisa fulano vem  aqui o que esta acontecendo e não espera o D, a R. chegar... a gente procura saber  o que esta acontecendo com ele, nós somos o primeiro que chegamos de manhã e  que dia que eles já estão ali. Então a gente começa a conversa já vai acalmando  e quando a equipe chega a gente já passa.
                                  
                                
                                Alguns participantes apontam a condução das conversações como um elemento  importante. Para eles, a presença de um interventor externo trouxe várias  contribuições para o entendimento dos casos discutidos e para a forma como o  serviço vinha conduzindo o projeto terapêutico do usuário.
                                  Outra informação salientada no grupo está relacionada à participação e  contribuição de cada integrante nas discussões. Alguns participantes afirmam  que a discussão de casos possibilita a contribuição de todos os integrantes da  equipe, que se comprometem de forma diferenciada na condução do caso. Esse  aspecto não foi associado às conversações clínicas e foi justificado em  características e tendências da equipe e da coordenação do serviço. Um dos  participantes afirma que percebeu uma dedicação maior da equipe após as  conversações clínicas. Percebemos durante o grupo focal que quase todos os  participantes da equipe se sentem a vontade para manifestar-se e emitir  opiniões. Foram citados exemplos de casos, em que a contribuição de  profissionais de nível fundamental e médio foi decisiva para a construção do  projeto terapêutico do usuário.
                                
                                  
                                    [...] eu tive nitidamente  essa sensação todo mundo tinha uma fala, um momento pra conta e eu lembro de  uma vez de uma coisa que o L. falou foi assim importante foi a chave que deu um  Click  que o L. chamou a atenção [...]
                                    A princípio a gente teve  uma angústia e depois daquele momento eu sai de lá muito empenhada pensando  tenho algo a fazer... que a gente tinha algo a fazer.
                                    Eu acho que com certeza faz  todos refletirem, porque deu para compreender que todos os técnicos têm o seu  papel, a sua função. Ficou claro que precisava de toda a equipe [...] porque o  paciente envolve vários momentos, várias situações e vários técnicos com ele.  Eu acho que todo mundo sentiu necessidade de refletir sobre a sua atitude.
                                    E eu percebi que todo mundo  atuou dessa maneira... houve uma efervescência de fala, todo mundo queria falar  eu acho que surgiu um efeito muito positivo todo mundo ficou muito motivado pra  falar.
                                  
                                
                                A interação entre a equipe mudou após as conversações clínicas. Os  participantes afirmam que conseguem se comunicar melhor entre si e trocam  informações e opiniões acerca dos casos, com mais intensidade.
                                Os participantes afirmaram que convidaram a presidente da Associação de  Técnicos e Usuários de Saúde Mental. Ela compareceu em uma das conversações. O  grupo reconhece a importância em realizar as conversações com representantes de  outros parceiros da rede, que de alguma forma estejam envolvidos no caso.  Contudo, eles afirmam que essa percepção não chegou à equipe através das  conversações clínicas já que essa prática já fazia parte da rotina da equipe e  já era uma orientação da política do município. Alguns participantes não  localizam na articulação da rede de serviços local a principal contribuição das  conversações clínicas. Eles afirmam as maiores contribuições se dão na  perspectiva clínica. 
                                
                                  
                                    Eu acho que se for possível  unir os outros profissionais é muito legal... e isto tem experiência em outros  lugares. Eu tenho um lugar que é o CAPS que trabalho basicamente dentro da  saúde mental e trabalho em outro lugar que é da Atenção Básica e lá eles não  conhecem os usuários da saúde mental... é assim: este é do CAPS, vai para lá...  eu não sei, não conhece aquele sujeito. E eu acho, se você pode trazer essas  pessoas para discussão para que elas conheçam, envolvam minimamente eu acho que  seria muito legal.
                                    [...] a organização da rede  é fundamental é um tipo de trabalho, a gestão política... mas os impasses  maiores estão com a clinica, na relação transferencial, na questão da escuta,  na clinica do sujeito como eles colocam e foram aí que as conversações e  supervisões fizeram caminhar.
                                  
                                
                                O grupo aponta a psicanálise como uma abordagem que é privilegiada nas  conversações clínicas. Os participantes dizem que a psicanálise é a abordagem  teórica que norteia todas as discussões e as decisões tomadas pela equipe. Os  participantes de nível médio e fundamental reconhecem a psicanálise como  abordagem privilegiada, mas afirmam que isso não inviabiliza suas participações  e contribuições. Eles associam a facilidade de compreensão do caso à luz da  psicanálise, à forma como o condutor das conversações clínicas orienta as  reflexões.
                                
                                  
                                    [...] o discurso principal  é a psicanálise que norteia... nesse sentido eu acho que o que exclui é o que  parte em uma direção antagônica à psicanálise. Então, por exemplo, a gente não  tem como fazer uma discussão psicanalítica e uma discussão cognitiva-  comportamental... não cabe.
                                    Ela [a psicanálise] não  fica no discurso muito de jargão, mas a forma que o L. conduz não é um discurso  de jargão. Ele parte, a partir do caso mesmo, do paciente e isto facilita a  gente entender.
                                    E do jeito que o L. faz a  supervisão com a linguagem da gente. A gente entende melhor principalmente para  mim... quando falar na teoria vai passar batido.
                                  
                                
                                A principal contribuição percebida nas conversações, de acordo com as  afirmações dos participantes desse grupo focal, está relacionada à compreensão  do caso clínico e a construção coletiva do projeto terapêutico do usuário. Essa  contribuição não é associada diretamente às conversações clínicas, enquanto  método, mas são características percebidas pela equipe no espaço de discussão  de casos. A quase inexistência de diferenças entre o modelo da conversação  clínica e o modelo de discussão de casos clínicos adotado pela equipe nos faz  pensar que este último incorporou princípios e fundamentos da conversação, nos  processos de supervisão externa ministrada por membros da equipe central da  CLINICAPS.
                                O Site criado pela pesquisa foi citado no grupo como um aspecto positivo.  Apesar de apenas 02 participantes terem acessado o site eles afirmam que, ter  os casos discutidos no município disponibilizados na web para consulta de  outros serviços foi um elemento motivador e enriquecedor do trabalho da  CLINICAPS.
                                3.7. Localidade: Uberaba/MG
                                Resultados
                                Quando os  participantes foram  perguntados sobre  sua compreensão acerca  da conversação clínica, imediatamente começaram a se pronunciar. Já no início  idéias como “ampliação do olhar”, “novas opiniões” e “novos olhares” foram  mencionadas pelos participantes. Os sentidos desses olhares se referiram à  importância de ter alguém “de fora” do cotidiano do serviço, já que se  compreende o trabalho realizado pelos profissionais marcado por um envolvimento  que muitas vezes não permite compreender e visualizar determinados processos  que podem estar acontecendo com os pacientes. Seja por um certo cansaço causado  pelo caso, seja pelo apego excessivo, seja por um cotidiano de trabalho que se  impõe nos profissionais.
                                
                                  
                                    A gente tá aqui,  a gente vivencia muito o que acontece com estes meninos, às vezes a gente se  apega. Eu acho que é olhar diferenciado, o olhar de quem não conhece este  adolescente ou esta criança acho que é assim a gente faz o diagnostico e vê o  que acontece, mas muitas das vezes a gente deixa envolver as vezes e na hora  que chega e fala assim: olha está acontecendo isto com essa criança e eu não  estou dando conta dessa criança e vamos vê o que podemos fazer. Agora não a  gente coloca o caso e a gente tem uma visão de quem está de fora que de certa  forma não está contaminado por aquele paciente e às vezes é difícil para  equipe. Este olhar de fora é muito importante porque eu vejo que a equipe está  cansada dele porque é um paciente que dá muito problema para o serviço e tudo  dia tem um problema e acaba de fica difícil. E por mais que a gente tenta é  difícil lidar com este paciente.
                                  
                                
                                Os outros olhares também foram compreendidos como contribuições de  pessoas que vem de fora, que possuem outras experiências e que a partir disso  podem ajudar aqueles profissionais envolvidos na compreensão e condução do  caso. 
                                
                                  
                                    E este olhar  de fora trazendo novas sugestões mostrando outros caminhos que a gente poderia  está percorrendo com este paciente eu acho que contribui muito.
                                    Envolve tudo  a forma que ele conduziu e assim os questionamentos dele, as sugestões com as  opiniões que ele trazia. A conversação nossa foi muito rica a gente sempre  comentou depois das reuniões que a gente teve, a gente sempre comentou foi  muito rico.
                                  
                                
                                Outro elemento considerado nas respostas dos participantes se refere à  complementaridade de opiniões a partir de informações oriundas de diversas  pessoas que tiveram algum tipo de acesso ao caso clínico. Reconheceram que cada  profissional ou envolvido tem acesso a informações e também formas de relação  diferenciadas sobre o caso e que possibilitar um espaço de apresentação desse  olhares enrique demasiadamente a compreensão do caso.
                                
                                  
                                    Aconteceu que um terapeuta  de referencia do caso apresentado fez a exposição completa, uma exposição do  caso e todos os outros integrantes do grupo, da equipe foram apresentando como  ele era no grupo de um, no grupo do outro e dando novas informações que não  tinha o conhecimento como, por exemplo, a informação que obteve com a mãe dele  em determinado momento ou outras informações durante o atendimento de grupo  porque ele tem um técnico de referencia mas participar de outros grupos. Não  foi assim gente?
                                    Cada um foi  dando um pouquinho de informação sobre o paciente, cada um foi dando um pouco  de seu olhar. E no final eles fizeram o fechamento.
                                  
                                
                                Chegaram a demonstrar espanto em relação à diversidade de olhares dos  próprios participantes da equipe com os quais se depararam. Destacou-se que  apesar de ser uma equipe que trabalha em conjunto, as formas de relação e visão  sobre os casos são distintas e compartilhar tal diversidade foi analisada como  rica.
                                O grupo relata que a conversação  clínica veio enriquecer atividades que eles já desenvolviam no serviço, como  por exemplo, as reuniões semanais, às segundas feiras. Relatam que como  realizam discussões com uma certa peridiocidade sobre os casos, não utilizam as  reuniões para aprofundamentos dos mesmos. Não há, nessas reuniões, apresentação  de casos, e sim de algum elemento que possa ser novidade. Mais uma vez se  referem à importância de elementos externos na conversação, pois isso exige que  haja a apresentação do caso, exercício que enriquece e propicia uma  re-elaboração em equipe. Reconhecem que na conversação clínica, elementos  desconhecidos por alguns são compartilhados, apesar da peridiocidade das  reuniões semanais. Destacou-se também a importância de um parâmetro de fora  para um certo feedback acerca do trabalho que está sendo realizado. 
                                
                                  
                                    E muitas das  vezes apesar das dificuldades assim a gente vê que está no caminho certo, não é  M.? E motiva a gente a continuar... se eu estou no caminho certo então eu vou  continuar.
                                    Eu acho que  surgiu assim teve questionamento de dados do paciente que não tinha antes. Qual  é o papel de cada um da família por exemplo pra gente investigar melhor o caso,  quem cuida é a mãe ou a avó, quem teve na realidade o papel de mãe. 
                                  
                                
                                Destacam também como  contribuição da conversação clínica, a mudança de postura dos envolvidos em  outros casos atendidos pelo serviço. Afirmam que ficaram mais atentos a  determinados aspectos, passaram a indagar coisas que antes não faziam, se  reposicionaram diante de todo o trabalho. 
                                Outro aspecto destacado como  contribuição da metodologia de conversação, mesmo que essa fosse uma  preocupação da equipe antes da mesma ser implementada, se refere á capacidade  de unificar percepções e discursos sobre os casos discutidos. Reconhecem que a  conversação possibilita a concretização desse objetivo que já estava na equipe  há tempos. Consideram que em casos clínicos muito difíceis, se não há uma  unidade de percepção, podem ser alvo de manipulação dos próprios pacientes e  esse é um aspecto que desejam combater.
                                
                                  
                                    Como são  casos graves os que a gente traz para reunião a gente vê que é importante que  todo mundo fale a mesma língua. Então a gente discute o caso nas reuniões de  segunda e vai todo mundo conforme a gente combinou que a gente viu que é o  certo. Só que tem outros casos que a gente vai assim... tem tantos tão graves  que às vezes uma criança cada um trata de um jeito, cada tem sua forma de  intervir e aí assim fica com intervenções diferentes justamente porque a gente  não trouxe essa criança, ele não deu tanto trabalho para gente trazer para a  reunião. Teve até uma época que a gente fez uma lista que a gente iria discutir  todos  os casos justamente para não  acontecer isto mas não foi possível.
                                    Falar a  mesma língua é o mais importante da equipe, no trabalho de equipe em alguns  casos tem também que eles são muito manipuladores então eles vêem tentando isto  de formas diferentes com cada membro da equipe tentando tira aproveito então  quando a gente percebe isto porque assim já é comum a gente já tem uma mesma  linguagem no que pode e no que não pode por exemplo dentro do serviço mas tem  uns que são meio perspicaz eles vão mais pelas lacunas e nesses casos se tornam  mais difíceis para equipe. então a gente faz uma regra para aquele paciente ele  hoje precisa mais disto então vamos todos aplicar isto com ele. 
                                  
                                
                                Destacaram que em relação aos  procedimentos institucionais, nada mudou no funcionamento do serviço. No que se  refere à participação de profissionais de outros equipamentos destacaram,  quando perguntados, da importância da sua presença, mas esta de fato não  acontece com freqüência..
                                Fizeram referência à necessidade  que sentem, em alguns momentos, de fazer reuniões entre profissionais técnicos  e profissionais do grupo de apoio, mas nunca nas conversações. Dizem que a  forma de contribuição é no dia a dia; reconhecem que freqüentemente  profissionais de apoio vão até os técnicos e manifestam suas percepções sobre  os comportamentos dos pacientes, algo que julgam estranho, etc.
                                Sobre a prevalência ou não de  algum campo de conhecimento/saber nas conversações clínicas, o grupo reconhece  que a psicanálise ocupa um lugar privilegiado, mas afirmam que isso não é  impeditivo para que se apresentem outros pontos de vista. Relatam situações  onde se lançou mão da perspectiva comportamental o que foi muito positivo para  o caso. Contudo, a situação fica um pouco diferente quando se referem à  capacidade de acompanhamento do pensamento psicanalítico por parte de  profissionais de nível médio ou fundamental. 
                                Profissionais que não são da  área psicologia/psicanálise manifestaram que em alguns momentos têm uma  avaliação de que os casos são muito psicologizados.  Para eles, isso pode deixar a equipe menos  aberta para outros aspectos do caso. 
                                Por fim, quando perguntados  sobre dificuldades da conversação clínica, se referiram aos conflitos de  opinião provocados e da necessidade de ter que conversar e dialogar para buscar  um consenso. Também se referiram ao fato de trabalharem com crianças e das  dificuldades de compreensão e interpretação acerca do que eles dizem e  manifestam.  Contudo, reconhecem que a  conversação clínica promove uma discussão mais aprofundada dos casos.
                                4. Conclusões 
                                A análise dos grupos focais apresentada acima nos leva a algumas  conclusões importantes acerca da metodologia da conversação clínica que  poderiam ser resumidas nos seguintes aspectos:
                                
                                  - O       conhecimento da metodologia da conversação clínica não acontece de forma       abrangente em todos os CAPS. A principal dúvida que aparece é em relação á       diferenciação entre supervisão e conversação. Contudo, embora muitos não       saibam nomear literalmente essas diferenças, demonstram, pela prática,       identificar algumas delas.
 
                                  - O       primeiro aspecto reconhecido como diferencial da conversação clínica se       refere ao fato de ser conduzida por participantes “de fora”. Destaca-se       que a presença de alguém que não vivencia o cotidiano do caso permite a       visualização de aspectos que quem está “muito perto” ou envolvido é       incapaz de ver e compreender. Além disso, o “olhar de fora” trás novas       experiências, olhares e conhecimentos.
 
                                  - O       segundo aspecto destacado como característico e positivo da conversação       clínica é o fato de consistir em uma produção coletiva. A presença e       participação de vários profissionais com vínculos institucionais diversos       possibilita compreender o caso de uma forma mais abrangente e tal       compreensão leva a posturas de mais qualidade na condução do mesmo. Tal       diversidade é identificada, muitas vezes, como o trabalho intersetorial,       previsto pela política nacional, em ação.
 
                                  - Outro       aspecto é a identificação da psicanálise como saber que prevalece nas       conversações clínicas. Tal fato é avaliado a partir de duas perspectivas:       como o elemento que possibilita uma certa unidade acerca da visão do caso       ou como elemento de exclusão de uma certa diversidade de olhares sobre o       caso.
 
                                  - Há       o reconhecimento de que a participação dos profissionais de apoio do serviço       no cotidiano é de grande relevância, embora eles não tenham participado       das conversações clínicas.
 
                                  - Não       há uma percepção de mudanças nas relações institucionais e políticas a       partir das conversações clínicas.
 
                                  - A       revista eletrônica CLINICAPS não cumpriu o objetivo de apoio às atividades       das conversações sendo mencionada e conhecida por poucos.